quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A falta de juízo

Estou lendo o novo livro de crônicas da Danuza Leão e me peguei em enorme nostalgia, lembrando dos meus 20 e poucos ano e nenhum juizo.

Bê e Gabriel,
mamãe nunca teve muito juizo - (prova disso é que esta contando isso para vocês, mas este blog tem o objetivo de vocês conhecerem a sua mãe mesmo, então vamos lá. ) Meus 20 e poucos e muitos anos foram vividos a mil, foram 10 anos a 1000 literalmente. E como diz este texto da Danuza, a graça toda era realmente não ter juizo. Talvez um dia eu conte um pouco mais para vocês, das minhas viagens escondidas, dos muros escalados, das trilhas caminhadas, dos acampamentos nos finais de semana, dos carros roubados da vovó.


A falta de juízo - Crônica de Danuza Leão


Voltar aos 20 anos, sabendo de tudo que se sabe agora, é o sonho de quase todas as pessoas. Mas seria bom mesmo? E quais as vantagens?

Ok, você estaria lindinha, com tudo no lugar, sem uma só microcelulite para contar a história, os cabelos brilhando e nem um músculo no corpo, já que a carne está tão durinha que parece que saiu do freezer. Com todos esses atributos, estaria pronta para ser a dona do mundo e, com juízo, não faria as bobagens que já fez, como preferir acampar no fim do ano com o namorado - pobre e que ainda por cima aprontava- a aceitar aquele convite para participar de um cruzeiro incrível onde a cada passo surgiria uma oportunidade -de um novo trabalho, de uma nova viagem, de um novo amor (rico, é claro). Mas valeu, não valeu?

Ok, ter juízo é o que se almeja na vida, e só o tempo -e as pauladas que se leva- ensina. Mas cá entre nós: não ter juízo nenhum e não medir as conseqüências do que se faz é a melhor coisa do mundo. Pense nas loucuras que já fez e responda sinceramente: não foi bom demais?

Lembra quando, para passar o fim de semana fora, era preciso inventar uma grande mentira para a família? Dizia que ia para casa de uma amiga na praia -com os pais presentes, claro; não tinham telefone, mas você não ia esquecer de ligar.

Até ligava, mas do bar, sentada no colo do namorado e tomando uma cerveja; o único problema era não deixar que nessa hora ele ficasse beijando sua orelha, só de provocação, para que a mãe não desconfiasse. Afinal, mãe também passou pela fase de não ter juízo e tem memória: do som de certas risadinhas nunca se esquece. E tem mais: no lugar de voltar no domingo à noite, você só aparecia na segunda à tarde.

Seja sincera: hoje, com uma bela posição no mercado de trabalho, dois filhos adolescentes e um ex-marido controlando seus passos, você seria capaz de fazer metade disso? E a responsabilidade? E o exemplo? E a culpa?

A verdade é que a graça de ter 20 anos é exatamente não ter nem responsabilidade nem culpa, o que prova o quanto era melhor a vida antes de a gente ter crescido e se tornado um adulto de respeito. E afinal, de que adiantaria ter o corpo de 20 e a cabeça de um adulto de respeito? Para dizer a verdade, nada. Na-da.

Não se estava nem aí para coisa alguma. Tinha que chegar cedo da praia porque o almoço era à 1h? Simplesmente não se chegava; e daí? Ah, mas então não almoçava? Um ovo frito resolvia; e daí? O box do chuveiro ficava cheio de areia, para desespero da mãe e da empregada? E daí? Era um clima de mais ou menos "e daí" para tudo, o que fazia da vida uma coisa leve leve, que delícia.

E ninguém esquentava por falta de dinheiro. Se tinha um show, sempre havia alguém para descolar os convites; se não descolasse, e daí? Ficar azarando na porta já era um programaço, e sempre tinha um agito depois; um ou vários.

Beirar a irresponsabilidade, sair com a meia rasgada decretando que é moda, tirar do baú da avó uma echarpe velha toda puída pelas traças, enrolar no pescoço e ficar deslumbrante, mentir para a mãe com a cara mais limpa deste mundo, matar aula e chegar em casa com a cara bem sonsa e vermelha de sol, não era ótimo?

Pensando bem, estou desconfiada de que a grande graça mesmo não era ter 20 anos, e sim não ter juízo. E quem tiver a coragem de voltar a ser tão sem juízo como quando era jovem é bem capaz de nunca mais abrir a boca para dizer que tem saudades da juventude.

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